Em vitória para o governo, deputados dão aval em 2º turno a proposta que deve viabilizar o benefício de R$ 400. A PEC, que segue para o Senado, dribla teto de gastos e deve liberar R$ 91,5 bilhões para despesas em 2022.A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira (10/11) a Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC dos Precatórios. A aprovação é considerada uma vitória para o governo de Jair Bolsonaro e para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O governo aposta na PEC para viabilizar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
Aprovada em segundo turno na Câmara por 323 votos a favor, 172 contrários e uma abstenção, a PEC foi uma saída encontrada pelo governo para ampliar o seu limite de gastos em 2022, ano de eleições, sem cortar outras despesas. A estratégia é baseada em dois pilares.
O primeiro permite adiar o pagamento de precatórios ao permitir seu parcelamento. Pelo texto-base aprovado, os precatórios listados na emenda agora deverão ser pagos em três anos: 40% no primeiro ano e 30% em cada um dos dois anos seguintes.
Precatórios são dívidas do governo já reconhecidas pela Justiça contra as quais normalmente não cabe recurso, podendo ser em relação a questões tributárias, salariais ou qualquer outra causa em que o poder público seja o derrotado.
O segundo pilar da PEC é alterar o cálculo do teto de gastos de forma a possibilitar mais despesas em 2022. Hoje, considera-se a inflação dos últimos 12 meses até junho do ano anterior para definir o teto do ano seguinte. A proposta aprovada é a de usar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado até junho mais uma estimativa para julho a dezembro do próprio ano.
Na prática, a aprovação da PEC dos Precatórios deverá disponibilizar R$ 91,5 bilhões em 2022 para novas despesas, o que deverá viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil no valor de R$ 400 mensais.
or decreto, o governo regulamentou e detalhou os benefícios do Auxílio Brasil na noite de segunda-feira. Espera-se que o auxílio seja pago já neste mês de novembro até o final de 2022.
Partidos com mais deputados que desrespeitaram a orientação
Partido | Orientação | % de votos ‘infiéis’ |
MDB | Não | 39% |
PSDB | Sim | 34% |
Podemos | Não | 30% |
Cidadania | Não | 29% |
PSB | Não | 28% |
Avante | Sim | 25% |
Partidos da base que tiveram os deputados mais ‘fiéis’
Partido | Orientação | Votos SIM | % de votos SIM |
Solidariedade | Sim | 13 | 100% |
PSC | Sim | 11 | 100% |
PROS | Sim | 9 | 100% |
Patriota | Sim | 6 | 100% |
PP | Sim | 41 | 98% |
Republicanos | Sim | 30 | 97% |
PL | Sim | 41 | 95% |
PSL | Sim | 49 | 91% |
PTB | Sim | 9 | 90% |
DEM | Sim | 24 | 89% |
PSD | Sim | 30 | 86% |
Avante | Sim | 6 | 75% |
Partidos da oposição que tiveram os deputados mais ‘fiéis’
Partido | Orientação | Votos NÃO | % de votos NÃO |
Novo | Não | 8 | 100% |
PT | Não | 52 | 98% |
PCdoB | Não | 8 | 89% |
PSOL | Não | 7 | 78% |
PDT | Não | 19 | 76% |
PV | Não | 3 | 75% |
Manobras de Lira
A PEC será agora encaminhada para o Senado, onde também precisa ser aprovada em dois turnos com pelo menos dois terços dos votos a favor da medida para passar a valer. A previsão é de que a proposta enfrente dificuldades para receber o aval dos senadores.
No primeiro turno na Câmara, Lira lançou mão de duas manobras para garantir a aprovação da PEC: permitiu que deputados votassem à distância e realizou uma mudança no texto em plenário, sem ter sido aprovada pela comissão especial da proposta.
A única mudança no texto feita na votação em segundo turno nesta terça, por meio de aprovação de destaque do partido Novo, retirou a permissão para o governo contornar a chamada “regra de ouro” por meio da lei orçamentária. A regra de ouro impede que o governo contraia dívidas para pagar despesas correntes, como salários de servidores e aposentadoria.
Por que o governo quer alterar o teto
Segundo o governo federal, cerca de R$ 50 bilhões da folga no Orçamento devem ir para o programa Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família e visa pagar no mínimo R$ 400 por mês às famílias beneficiadas. O Bolsa Família pagava, em média, R$ 190 por mês antes de ser extinto pelo governo Bolsonaro.
A discussão sobre a substituição ou ampliação do Bolsa Família era ativa no governo e no debate público desde o início do auxílio emergencial, em abril de 2020, que demonstrou os efeitos benéficos de uma maior transferência de renda no combate à pobreza e no desempenho da economia.
Porém, nesse período o governo e o Congresso não fizeram reformas ou cortaram despesas que permitiriam a ampliação do programa. Pelo contrário, foi ampliado o valor destinado a emendas parlamentares e não houve redução de subsídios a setores da economia e nem o enfrentamento de privilégios salariais de parte do funcionalismo público.
Como consequência, quando Bolsonaro confirmou que criaria o Auxílio Brasil, não havia espaço no Orçamento do ano que vem para financiá-lo e, ao mesmo tempo, respeitar o teto de gastos.
O teto de gastos foi criado no governo Michel Temer com a justificativa de reduzir a dívida pública, mas seu modelo desperta controvérsia entre economistas. Ele estabelece que o governo não pode gastar mais do que gastou no ano anterior, corrigido pela inflação.
Os efeitos políticos
A mudança no teto de gastos é defendida por uma ala importante do governo, que considera crucial ampliar as despesas no ano que vem para aumentar a chance de Bolsonaro se reeleger. Pesquisas eleitorais mostram que o presidente seria derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a folga no Orçamento viabilizada pela PEC e o pagamento do Auxílio Brasil, o Planalto espera ampliar a popularidade de Bolsonaro, especialmente nas regiões mais pobres do país, onde Lula tem suas maiores taxas de intenção de voto.
Com a verba extra, seria possível ainda ampliar o valor das emendas parlamentares, importantes para Bolsonaro conquistar o apoio de deputados e senadores, e ainda criar outros programas. Em outubro, o presidente prometeu que daria também um auxílio a caminhoneiros para compensar pela alta do diesel.
lf (Agência Câmara, Agência Brasil, DW, ots)